Sábado à noite, pouca coisa ou
quase nada pra fazer. Enquanto a maioria das pessoas fica comentando nas redes
sociais, fingindo que terão uma noite empolgante, alguns, como Capitu, ousam
sair do virtual para o real e aventuram-se na noite em busca de um sentido para
a vida.
Capitu é uma jovem livre em seus
pensamentos, aprisionada pelos pais, ou melhor, os pais acham que a
aprisionam, mas, assim como a Capitu de Machado de Assis, a nossa Capitu não se
deixa controlar, é um espírito livre como de cigana, e possui aqueles mesmos
olhos de ressaca, porém agora com duplo significado: a ressaca do mar que
arrasta os mais sãos homens para seus truques e seduções, e as ressacas das
latas e long neck de cerveja e copos de vodka, whisk e outros tantos que nem
sei listar.
Capitu é bela, mas às vezes se
acha feia, às vezes se acha gorda, às vezes se acha linda, às vezes é viciada
em academia, às vezes nem liga pro que se acha, só quer rir e rir, sem saber do
que está rindo, às vezes ri até de si mesma. Ah, Capitu!
Capitu é tantas coisas que eu me
confundo de tanto escrever sobre ela e, se eu não tomar cuidado, todos os
parágrafos começarão com esse nome: Capitu... Enquanto esqueço sutilmente de
escrever a história que queria contar sobre ela.
Meu problema é que Capitu é
bonita como nenhuma outra, com seus olhos esverdeados, cabelos castanhos, o
corpo recém-modelado pela academia. A que ontem era chamada de gorda, hoje
passa pelas ruas ouvindo “gostosa”, e segue em frente, não liga, ela é livre, ou
acha que é livre, nem sei, só sei que é linda a Capitu.
Mas chega de falar sobre ela e voltemos
ao sábado à noite, quando Capitu parte pra mais uma festa, não preciso citar
lugares, pois Capitu pertence ao mundo e não a lugar algum. Capitu dança, vive,
se alegra e bebe. Beija aquele rapaz moreno e alto, de corpo esbelto, e bebe.
Dança mais um pouco, esbanja a sensualidade, sorri enquanto lembra que a
chamavam de gorda e, então, bebe.
- Capitu, já chega. – diz a voz
em sua cabeça, Capitu diz que não, respondendo pra amiga que a fazia parar.
Capitu é livre e está feliz, feliz!
Capitu samba, dança valsa, dança
xote, dança forró e funk e bebe. Capitu domina a todos e todos pensam que a dominam,
mas ela é livre, então sorri, ri, fala besteira e bebe, as amigas a seguram:
- Para com isso, Capitu.
E aí Capitu só vê a escuridão,
some a memória, horas parecem minutos, minutos sufocam as horas e o dia
amanhece. Abre então os olhos de ressaca a nossa Capitu: é domingo, não é mais
sábado, está deitada em um sofá, ou será uma cama? A cabeça lateja e ela ainda
ri à toa, é livre e feliz, mas até quando?
As amigas surgem e explicam que a
protegeram, Capitu queria fazer milhares de besteiras, mas elas a impediram,
grandes amigas: salvaram Capitu outra vez.
Capitu repete pra si a ladainha
de que é feliz quando faz isso, mas se olha no espelho: maquiagem borrada,
sorriso desfeito. É livre e é feliz, mas de que jeito? Lembra que a chamavam de
gorda, lembra que não lembra se transou com quem seja essa noite, lembra que é
livre, mas não sabe nem sequer o que é liberdade, lembra que é feliz, mas não
sabe o que é felicidade. Então a forte Capitu solta uma outra Capitu escondida
em seu peito e chora.
As amigas a abraçam, encostam
suas cabeças sobre a dela, são três, inseparáveis, um grupo de aventuras
incontáveis, são elas as duas outras partes de Capitu. O calor do abraço
espanta a ressaca. As frustrações da noite anterior viram piadas. No final não
era a festa, não era a liberdade, mas sim quem estava com ela. Capitu
redescobre em cada gole a sua verdadeira felicidade nas amigas que a amparam, e
faz isso com frequência. Sorri, vive e bebe, abraça e beija quem quer. A
felicidade constante encontra mais tarde: no afago das amigas que não a deixam,
em quem confia plenamente.
E então, será que Capitu é feliz?
Será que deve ser julgada? Será que o que faz é errado?
Bem, fica você aí pensando, que
Capitu vai continuar dançando, beijando e bebendo, sendo quem ela é, com um
sorriso no rosto, mandando pra merda, falando o que pensa, abraçada com suas
amigas, pois Capitu é linda, Capitu é livre... Ou não?
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Qualquer semelhança é mera coincidência. Embora saiba que provavelmente isto será lido por várias "Capitus".
Enquanto a você, caro leitor, pode julgar, amar e apreciar ou condenar e odiar Capitu, o que importa é que ela continuará sendo Capitu e que só ela poderá dizer se é ou não feliz.
Eu julgo que ela é feliz a seu jeito. Então, boa sorte com seu julgamento....
Acredito que todas as meninas tem um pouco de "Capitu" em si
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