segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Capitu no sábado a noite

Sábado à noite, pouca coisa ou quase nada pra fazer. Enquanto a maioria das pessoas fica comentando nas redes sociais, fingindo que terão uma noite empolgante, alguns, como Capitu, ousam sair do virtual para o real e aventuram-se na noite em busca de um sentido para a vida.

Capitu é uma jovem livre em seus pensamentos, aprisionada pelos pais, ou melhor, os pais acham que a aprisionam, mas, assim como a Capitu de Machado de Assis, a nossa Capitu não se deixa controlar, é um espírito livre como de cigana, e possui aqueles mesmos olhos de ressaca, porém agora com duplo significado: a ressaca do mar que arrasta os mais sãos homens para seus truques e seduções, e as ressacas das latas e long neck de cerveja e copos de vodka, whisk e outros tantos que nem sei listar.

Capitu é bela, mas às vezes se acha feia, às vezes se acha gorda, às vezes se acha linda, às vezes é viciada em academia, às vezes nem liga pro que se acha, só quer rir e rir, sem saber do que está rindo, às vezes ri até de si mesma. Ah, Capitu!

Capitu é tantas coisas que eu me confundo de tanto escrever sobre ela e, se eu não tomar cuidado, todos os parágrafos começarão com esse nome: Capitu... Enquanto esqueço sutilmente de escrever a história que queria contar sobre ela.

Meu problema é que Capitu é bonita como nenhuma outra, com seus olhos esverdeados, cabelos castanhos, o corpo recém-modelado pela academia. A que ontem era chamada de gorda, hoje passa pelas ruas ouvindo “gostosa”, e segue em frente, não liga, ela é livre, ou acha que é livre, nem sei, só sei que é linda a Capitu.

Mas chega de falar sobre ela e voltemos ao sábado à noite, quando Capitu parte pra mais uma festa, não preciso citar lugares, pois Capitu pertence ao mundo e não a lugar algum. Capitu dança, vive, se alegra e bebe. Beija aquele rapaz moreno e alto, de corpo esbelto, e bebe. Dança mais um pouco, esbanja a sensualidade, sorri enquanto lembra que a chamavam de gorda e, então, bebe.

- Capitu, já chega. – diz a voz em sua cabeça, Capitu diz que não, respondendo pra amiga que a fazia parar. Capitu é livre e está feliz, feliz!

Capitu samba, dança valsa, dança xote, dança forró e funk e bebe. Capitu domina a todos e todos pensam que a dominam, mas ela é livre, então sorri, ri, fala besteira e bebe, as amigas a seguram:

- Para com isso, Capitu.

E aí Capitu só vê a escuridão, some a memória, horas parecem minutos, minutos sufocam as horas e o dia amanhece. Abre então os olhos de ressaca a nossa Capitu: é domingo, não é mais sábado, está deitada em um sofá, ou será uma cama? A cabeça lateja e ela ainda ri à toa, é livre e feliz, mas até quando?

As amigas surgem e explicam que a protegeram, Capitu queria fazer milhares de besteiras, mas elas a impediram, grandes amigas: salvaram Capitu outra vez.

Capitu repete pra si a ladainha de que é feliz quando faz isso, mas se olha no espelho: maquiagem borrada, sorriso desfeito. É livre e é feliz, mas de que jeito? Lembra que a chamavam de gorda, lembra que não lembra se transou com quem seja essa noite, lembra que é livre, mas não sabe nem sequer o que é liberdade, lembra que é feliz, mas não sabe o que é felicidade. Então a forte Capitu solta uma outra Capitu escondida em seu peito e chora.

As amigas a abraçam, encostam suas cabeças sobre a dela, são três, inseparáveis, um grupo de aventuras incontáveis, são elas as duas outras partes de Capitu. O calor do abraço espanta a ressaca. As frustrações da noite anterior viram piadas. No final não era a festa, não era a liberdade, mas sim quem estava com ela. Capitu redescobre em cada gole a sua verdadeira felicidade nas amigas que a amparam, e faz isso com frequência. Sorri, vive e bebe, abraça e beija quem quer. A felicidade constante encontra mais tarde: no afago das amigas que não a deixam, em quem confia plenamente.

E então, será que Capitu é feliz? Será que deve ser julgada? Será que o que faz é errado?


Bem, fica você aí pensando, que Capitu vai continuar dançando, beijando e bebendo, sendo quem ela é, com um sorriso no rosto, mandando pra merda, falando o que pensa, abraçada com suas amigas, pois Capitu é linda, Capitu é livre... Ou não?
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Qualquer semelhança é mera coincidência. Embora saiba que provavelmente isto será lido por várias "Capitus".
Enquanto a você, caro leitor, pode julgar, amar e apreciar ou condenar e odiar Capitu, o que importa é que ela continuará sendo Capitu e que só ela poderá dizer se é ou não feliz.
Eu julgo que ela é feliz a seu jeito. Então, boa sorte com seu julgamento....

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