terça-feira, 30 de setembro de 2014

Julgados

Dando corpo àquele velho ditado popular, "quem é vivo sempre aparece", aqui estou eu novamente lançando mais uma gama de palavras às redes através desse blog. Confesso que nas semanas passadas, algumas dificuldades e problemas pessoais me tiraram um pouco a vontade de escrever, mas eis que volto, depois das tempestades, para aproveitar A brisa leve e a maresia da minha mente para trazer uma poesia para aqueles que se aventuram a acompanhar as minhas "viagens mentais".

Recentemente percebi um aumento da discussão quanto à homofobia nas redes sociais, motivadas pelas polêmicas manifestações de determinado candidato à Presidência da República. Por esse motivo, escolhi marcar meu retorno com este texto que escrevi há algum tempo. O tema geral é a mudança dos tempos, as novidades que a pós-modernidade nos traz nas mais diversas esferas nas famílias, nas relações, nas instituições, na própria fé e outros (são tantas que talvez nem caberiam neste espaço).


Eu venho observando nas redes sociais (virtuais e reais) as mais diversas reações em relação a essas mudanças, da aceitação radical à negação radical, de forma branda e violenta, são diferentes formas de manifestar opiniões.

Considero exageros sempre maléficos, como ditava o filósofo grego Aristóteles, o excesso ou a deficiência geram vícios, não virtudes, creio que pode ser aplicada aqui: não quero me posicionar aqui como pró ou contra aborto, casamento homossexual, eutanásia, cultura de massa e tantas outras discussões que afloram com essas novas gerações. Pelo contrário: quero achar o balanço, a estabilidade, através da compreensão de que os tempos mudaram, os tempos avançam e não somos capazes de segurar este fluxo, resta-nos apenas refletir quais as maneiras menos danosas para viver estas mudanças.

Enfim, já enrolei demais e, se não me segurar, vou acabar esquecendo de colar aqui a poesia. Espero que gostem.

Julgados

Onde estão os versos sinceros?
Onde estão as cartas de amor?
Diga a eles que eu os espero
Num jardim escasso de flor.

Diga aos versos que as palavras mudaram,
Avisem ao poeta que o amor saiu de moda,
Peça que esqueçam o que compuseram,
Pois a vida girou qual velha roda.

Manda dizer que nasceu morango na jabuticabeira
E que as ondas do mar não mais chocam,
Avisa que esta não será a primeira,
Mas a última das damas que choram.

Pergunte à dama chorosa porque ela chora,
Se é pelo cravou ou pela rosa.
Se ela te responde, tens glória,
Mas o que dirás, então, à chorosa?

Dirás que rosa é rosa e cravo é cravo? 
Que morango não dá em jabuticabeira?
Acaso te esqueces que um dia foste escravo
Daquela velha e má conselheira?

Se está errado, diga em que
E me prove que estou enganado.
Tenho culpa do sofrimento que vês
Antes do trânsito em julgado?

Como condenar um condenado?
Avise ao poeta: as rimas mudaram.
Quem sabe um verso desencantado
Não cure a incerteza dos que a julgaram?

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