domingo, 14 de setembro de 2014

Uma missa de domingo

O sino da catedral soou às seis da manhã chamando desesperadamente todos os fiéis para a missa. Pessoas engomadas e enfeitadas começaram a sair de suas casas, chegando de carro, estacionando na praça, puxando e empurrando seus filhos. Alguns já haviam chegado mais cedo, estavam ajoelhadas nos genuflexórios dos bancos, olhando para dentro de si, rezando pelos seus, pelo mundo ou por nada. As crianças sonolentas sentavam nos bancos, escoradas nos pais, sem entender metade do que estavam fazendo ali, torcendo pra que acabasse logo pra poder passar o resto do dia no computador ou no vídeo game, outras apreciavam a infinidades de pinturas que rodeava paredes, vitrais, abóbodas e até o próprio piso: que obra arquitetônica digna do rei que ali reside!

O sino toca pela última vez, anunciando a todos que a missa iria começar: cruz, velas, incenso, coroinhas, leitores, ministros e padre, mais ou menos nessa formação, caminharam solenemente até o altar iniciando a tão esperada celebração.

Estava mais ou menos na metade quando eu cheguei. Estava sujo e fedido, com minhas vestes rasgadas e os pés rachados de tanto caminhar sem rumo pelas ruas de tantos lugares que nem sequer lembro direito, o corpo cheio de feridas de quedas e de chutes que me davam enquanto eu dormia, quando me xingavam de vagabundo e mandavam trabalhar pra conseguir comida. Enfim, não estava tão bonito quanto todos que estavam ali dentro, e por este motivo me sentei na porta e respirei fundo, esperei a celebração acabar.

- Ide em paz e que o Senhor vos acompanhe! – disse o padre, e o povo evaporou pelas portas, conversando alto ou ignorando uns aos outros, de um modo que eu não compreendi. Estendi a mão, não pedindo dinheiro, mas pedindo atenção (às vezes eu esqueço que sou invisível para muitos), se bem que dessa vez alguns me olharam e jogaram moedas na minha direção, recolhi, agradecendo com os olhos e eles foram embora.

Continuei sentado, respirei fundo novamente, ouvi passos – minha vista não estava tão boa naquele dia – olhei para dentro da igreja, o padre vinha conversando com duas senhoras. Falavam de coisas bonitas que iriam acontecer no final de semana seguinte: festa do padroeiro, entradas solenes e a presença do bispo. Eu sorri pra mim mesmo: com certeza estes me dariam atenção, ergui-me sobre os joelhos e estendi as mãos.

As senhoras deram dois passos para trás do padre, assustadas com minha audácia, enquanto eu de mãos estendidas, não conseguia falar nada. O padre, um senhor alto, usando roupas sociais de alguma marca que eu nunca havia vestido e com certeza não vestiria (é muito difícil achar esse tipo de coisa no lixo), sacou do bolso uma carteira e me deu uma nota: dez reais. E sorrindo despediu-se desejando que Deus me abençoasse a que respondi “Amém”.

Um senhor veio atrás fechando as portas e anunciando que eu não poderia ficar ali, que o horário tinha avançado, mas que podia vir no dia que distribuem o sopão. Olhei nos olhos dele, ele desviou, trancou as pesadas portas e seguiu seu rumo, me deixando ali, parado numa praça cheia de gente e vazia de sensibilidade.

Sentei-me no chão, no centro da praça e comecei a chorar chamando por minha mãe. Sim, sei que estou velho demais pra isso, mas quem não gosta de chamar a sua mãe num momento como estes?

E aí ela veio: vestida em trapos, com um lenço cobrindo a cabeça, me abraçou e me ergueu do chão, tirando a poeira da minha barba mal feita e com um sorriso, olhando nos meus olhos, disse:


- Meu filho, meu Jesus, não fique assim! Quem sabe na próxima eles te reconhecem?
--

Alguém foi à missa ou ao culto ou a outro rito religioso esse final de semana? Se sim, deixo essa crônica, hoje mais voltada aos colegas que, assim como eu, são cristãos, mas que deve ser lida e interpretada por todos.
O que realmente move a "tal" da nossa fé? Em quem acreditamos e será que vivenciamos de verdade o que acreditamos?
Este homem, chamado Cristo, deixou apenas um mandamento na sua "Lei": amai-vos. Simples e singelo, porém desafiador.
Espero que tenham gostado dessa crônica, e mantenhamos os olhos abertos, para que em nossas orações e celebrações não deixemos de fora aquele que deveria ser o centro...

Nenhum comentário:

Postar um comentário